As pessoas que não somos mais
abril 20, 2018
Eu me tornei uma pessoa diurna, você
acredita? Eu sei que sempre disse que amava a madrugada, e confesso
que ainda acho meio mágica, mas descobri que o motivo pelo qual eu
passava as minhas noites acordada mesmo quando tinha milhares de
coisas para fazer no outro dia era que eu as passava com você, que
até hoje, é daqueles que prefere fazer as coisas na calada da noite.
Descobri que um dos maiores prazeres da vida é dormir e acordar
cedo, pelo menos para mim. Comecei a tomar café, mudei de curso na
faculdade, estou lendo Victor Hugo e pensando em coisas como
minimalismo e estilo de vida vegano, parei de alisar o cabelo e
pintei todas as paredes do apartamento de branco, é engraçado
pensar que ainda moro no mesmo lugar quando você já mudou de cidade
duas vezes e planeja em breve mudar de país, mas tirando o endereço
nada está igual por aqui.
Quando a gente acabou, achei que fosse
doer para sempre. A gente sempre acha né? Mas nunca dura, e a nossa
dor também não durou, depois que você foi embora mudei tanto que
nem conheço mais aquela pessoa que te amou, que você amou. Isso é
bom, você não acha? Por que por não ser mais aquela pessoa eu
consigo ser hoje sua amiga, de um jeito que aquela menina nunca
poderia ser. Para ela seria muito doloroso te ver apaixonado por
alguém que não fosse ela, não conseguiria entender que você está
muito ocupado e que ela não é uma prioridade, nossa, como isso ia
doer.
Por sorte não sou ela, não mais. E eu
entendo, em mim não doí. Estou vivendo tão bem aqui quanto você
está vivendo aí, feliz em uma fase totalmente diferente da sua, com
oportunidades e experiências tão diferentes que nem cabemos mais um
na vida do outro, e não tem problema, nem para mim nem para
você.
Ouço nossas músicas, vejo as fotos
antigas, as marcações nas redes sociais e vejo dois estranhos que
nenhum de nós conhece, mas que foram muito felizes juntos e sofreram
muito quando se separaram, que nos ajudaram a chegar aqui, mas já não
existem. Ainda bem, por que gosto muito mais dessa pessoa do que daquela,
mesmo que você não.
Texto “Uma carta para um amor do passado” do Desafio de escrita.
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