Pode deixar
agosto 12, 2015
Eu estou sinceramente cansada de escrever sobre nós
dois, mas parece que achei todas as palavras que estavam perdidas na sua
ausência, assim que você foi embora não fiz nada além de chorar, queimar e sentir,
mas com o tempo eu fui seguindo um dia de cada vez, andado por aí esperando não
te encontrar, até o dia que você bateu na minha porta com aquela mesma mala que
te vi colocar suas coisas naquele sábado à noite, que deviria ter sido só mais
um.
Era uma noite comum, no meio de uma semana comum, onde
nada de extraordinário deveria acontecer, mas lá estava você, o meu acaso mais
bonito, meu precioso acidente, e foi sem dúvidas uma grande surpresa, te olhei
pelo que pareceu ser uma vida tentando encontrar vestígios do homem que amei.
Você me olhava com uma expressão que eu não conhecia, e eu costumava conhecer
todas as suas caras e bocas, no olhar carregava promessas silenciosas de que
estava vindo para ficar e na bagagem lembranças das quais eu não fazia parte.
E te deixei entrar, te deixei voltar, te deixei ficar e
ir ficando, confesso que te acompanhei com os dois pés atrás, mas ainda sou
incapaz de fechar a porta na sua cara, de bater ela com aquela força que você
usou quando se foi, ainda não sei se acredito na sua promessa, mas a gente vai
vivendo, vai levando, nessa tentativa de ir colocando as coisas no lugar. Aprendi
muito sobre o quanto mudamos e fui vendo que algumas coisas que pareciam tão no
lugar, nem encaixam mais, aprendi sobre o que éramos e o que somos agora, se
olharmos para trás já dá quase para nos chamarmos de adultos.
Talvez ainda tenhamos muitas incertezas, muito o que
aprender e descobrir sobre nós e sobre o mundo, mas diferente daquele noite,
quando você decidiu que precisava ir e eu me recusava a ficar, se você for
agora, pode deixar que eu fecho a porta.
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